Mês passado comprei GoGo Monster (a belíssima edição da Devir), de Taiyo Matsumoto. Eu já li coisa dele antes disso, mas não lembro o que. Eu conheci o mangaká passeando pelo Tumblr, quando esbarrei com uma página justamente de GoGo Monster.
Isso foi há uns bons dez anos. Lembro de ter imprimido a página e colado na parede do meu quarto. Mesmo sem ter conhecimento algum da história, a página me encantava. Não sei explicar por que. Fui atrás de qualquer coisa dele que achasse online para ler. Achei alguma, mas como eu disse, não lembro o que. Faz muito tempo. Ano passado parei em uma sebo e por um acaso achei e comprei o volume 2 de Preto & Branco (Tekkonkinkreet Black & White). Como eu não tinha (e ainda não tenho) o volume 1, não li, só fiquei passando as páginas e olhando. A arte me encantava.
Agora estou lendo GoGo Monster e está sendo uma jornada absurdamente desconcertante, no bom sentido. Quando terminar a leitura volto aqui e falo mais sobre, mas por ora, queria compartilhar algumas imagens, diálogos ou momentos que me chamaram a atenção.
A principal relação explorada é entre o protagonista, Yuki Tachibana e Makoto Suzuki. Makoto pergunta a Yuki:
“Por que só fala coisas que as pessoas não gostam? Por que não se importa que os outros chamem você de doido ou sinistro? Como consegue vir para a escola mesmo assim?”
A princípio Makoto não quer ser amigo de Yuki, mas logo os dois viram melhores amigos, ou algo próximo disso. Acho um tanto doído ler a pergunta de Makoto a Yuki, tudo que se desenrola a partir dela me diz muito sobre muitas pessoas que conheço e também sobre mim mesmo. Entendo Yuki mais do que entendo a razão para a pergunta de Makoto.
Yuki diz a Makoto:
“Quando ficamos adultos, nossos intestinos derretem e o cérebro fica duro que nem pedra (…), o corpo enche de vermes e começa a feder.”
Yuki tem razão, eu sou um adulto e atesto a veracidade de seu perspicaz entendimento sobre a vida.
Outro personagem importante na história é Sasaki, um menino que está o tempo todo com uma caixa de papelão na cabeça. Quando uma professora conversa com ele sobre a possibilidade de ele fazer um exame para entrar em uma outra escola:
“Posso fazer o exame usando a caixa?”
“Não. Precisa tirar.”
“Então não quero. A caixa é a minha verdadeira aparência, professora. Pra mim, fazer o exame sem a caixa seria igual obrigar outra criança a fazer a prova com a caixa. (…) Veja professora. Só tem um coelho branco, certo?”
“Sim.”
“Ele é meu melhor amigo. É diferente de todos os outros coelhos.”
Há elementos recorrentes na história. Os coelhos, um ou outro cachorro, plantas e flores (em especial as flores), um avião que cruza o céu acima da escola. São elementos que querem me contar alguma coisa, mas eu não sei se até o final da história serei capaz de escutar claramente e/ou entender.
Há momentos mais próprios do fantástico, onde a leitura te eleva para um tanto acima de onde quer que você esteja com o livro nas mãos. Como quando o prédio da escola não para de se esticar para além-céu, ou quando uma torneira pingando tem uma planta saindo de dentro dela.
Mais próximo ao ponto onde parei, já perto do fim, Yuki e Makoto parecem distantes um do outro:
“Por que parou de falar comigo? O que aconteceu?”
“Não aconteceu nada (…) Não consigo compartilhar a dor… Resta pouco tempo para mim.”
Deixo a resposta de Yuki a Makoto como justificativa a amigos com quem não tenho falado, e te convido a ler GoGo Monster. Mas leia sem pressa e com olhar atento, como o de Yuki.
[A intenção desse texto era a de ser (algo como a página que mostrei no início dele me aparecendo no Tumblr) um convite à leitura a partir de trechos destacados. Caso você venha a ler GoGo Monster algum dia por conta desse post, me conta…]